Lição 2 - Aquele que ensina nas sinagogas

Nesse estudo, passamos a observar os eventos que ocorrem logo após a primeira pregação de Jesus. Lemos que Ele ensinou nas sinagogas por toda a Galiléia de modo que sua fama começou a correr, e era um ensinador muito elogiado, contudo Ele parte para a cidade da qual procede, Nazaré, e lá é rejeitado

10/23/20259 min read

Acompanhe a leitura bíblica abaixo de Lucas 4:14-30:

¹⁴ Jesus voltou para a Galiléia no poder do Espírito, e por toda aquela região se espalhou a sua fama. ¹⁵ Ensinava nas sinagogas, e todos o elogiavam. ¹⁶ Ele foi a Nazaré, onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na sinagoga, como era seu costume. E levantou-se para ler. ¹⁷ Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito: ¹⁸ "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos ¹⁹ e proclamar o ano da graça do Senhor". ²⁰ Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele; ²¹ e ele começou a dizer-lhes: "Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir". ²² Todos falavam bem dele, e estavam admirados com as palavras de graça que saíam de seus lábios. Mas perguntavam: "Não é este o filho de José? " ²³ Jesus lhes disse: "É claro que vocês me citarão este provérbio: ‘Médico, cura-te a ti mesmo! ’ Faze aqui em tua terra o que ouvimos que fizeste em Cafarnaum". ²⁴ Continuou ele: "Digo-lhes a verdade: Nenhum profeta é aceito em sua terra. ²⁵ Asseguro-lhes que havia muitas viúvas em Israel no tempo de Elias, quando o céu foi fechado por três anos e meio, e houve uma grande fome em toda a terra. ²⁶ Contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, senão a uma viúva de Sarepta, na região de Sidom. ²⁷ Também havia muitos leprosos em Israel no tempo de Eliseu, o profeta; todavia, nenhum deles foi purificado: somente Naamã, o sírio". ²⁸ Todos os que estavam na sinagoga ficaram furiosos quando ouviram isso. ²⁹ Levantaram-se, expulsaram-no da cidade e o levaram até ao topo da colina sobre a qual fora construída a cidade, a fim de atirá-lo precipício abaixo. ³⁰ Mas Jesus passou por entre eles e retirou-se.

Nesse estudo, passamos a observar os eventos que ocorrem logo após a primeira pregação de Jesus. Lemos que Ele ensinou nas sinagogas por toda a Galiléia de modo que sua fama começou a correr, e era um ensinador muito elogiado, contudo Ele parte para a cidade da qual procede, Nazaré, e lá é rejeitado. Nossos olhos se detêm por um instante para observar também que a narrativa lucana interrompe o avanço bem sucedido do ministério de Jesus na Galiléia, para mostrar tanto que Jesus sofreu oposição, quanto que esta iniciou em sua própria cidadezinha. Algo mais pode ser percebido sobre quem Jesus é, sua missão e proclamação. Cheguemos mais perto do texto:

O Costume de Jesus

"e no dia de sábado entrou na sinagoga, como era seu costume." 16a.

Isso demonstra a fidelidade de Jesus às práticas religiosas judaicas e seu método regular de ensino. O Senhor Jesus tinha o costume de sempre estar reunido com o seu povo, seus irmãos, na sinagoga. Ele era presente e participante dos eventos espirituais de sua comunidade, e das comunidades para as quais se dirigia com o objetivo de anunciar a Palavra.

Além disso, essa prática consistente garantia-lhe a regularidade quanto ao ensino: uma das características muito fortes do ministério do Senhor é que Ele estava sempre ensinando, sempre preocupado que a comunidade (tanto os judeus quanto galileus, no sentido mais amplo) pudesse se aproximar de Deus, em arrependimento, e aguardar a manifestação do seu Reino de uma perspectiva correta. 

Ele tinha habilidade e familiaridade com a Escritura

"⁷ Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito:"

A Escritura muitas vezes deixa claro o empenho de Jesus em viver uma vida piedosa e que agradasse ao Pai. Isso pode tanto ser visto na sua consistente vida de oração, quanto aqui nessa passagem, ao vermos que Ele estava familiarizado com a Escritura, agora perceba que nos tempos dEle a Escritura não tinha ainda essa forma de códice que temos hoje, antes eram vários rolos de papiro e pergaminho. Além disso, esses rolos não contavam com a tradicional divisão em capítulos e versículos que temos em nossas Bíblia hoje, pense que até mesmo os espaços tão abundantes nesse texto que você está lendo não existiam nos manuscritos mais antigos, pois para economizar espaço (pergaminho era caro) quase sempre se escrevia tudo em letras maiúsculas (unciais) e juntas. Veja na imagem no topo desse post, o grande pergaminho de Isaías, encontrado no Mar Morto, link aqui para ver em alta resolução, e aqui para uma versão interativa que permite perceber versículos The Israel Museum, Jerusalem, The Great Isaiah Scroll .

O Senhor foi capaz de identificar o texto que queria falar em um pergaminho que só era possível de ser acessado na sinagoga. Imagine se a única Bíblia a que você tivesse acesso estivesse na igreja, e que nem sempre pudesse tomá-la para por alguns minutos estudá-la. Agora, mesmo nesse site é possível ler as Escrituras, basta clicar aqui, ou no botão "Leia a Bíblia aqui" no topo dessa mesma página, e em instantes o texto estará disponível. E lembre-se:

"Embora fosse o Filho de Deus, ele aprendeu, por meio dos seus sofrimentos, a ser obediente. E, depois de ser aperfeiçoado, ele se tornou a fonte da salvação eterna para todos os que lhe obedecem." Hebreus 5:8-9 (NTLH)

Como está a sua habilidade e familiaridade com a Escritura?

A escolha assertiva da profecia e a importância da proclamação seletiva de seu conteúdo

(a primeira e a segunda vinda de Jesus)

¹⁸ "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos ¹⁹ e proclamar o ano da graça do Senhor". ²⁰ Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se."

Esse é um texto verdadeiramente interessante, se você o ler completo perceberá que Jesus lê Isaías 61:1-2a, mas interrompe a leitura antes da frase: "...e o dia da vingança do nosso Deus" (Isaías 61:2b). Ele seleciona a parte que descreve Seu ministério de graça (a Primeira Vinda) e o estabelecimento do "ano da graça do Senhor", omitindo o julgamento definitivo (a Segunda Vinda), sinalizando a natureza do Seu ministério naquele momento.

Além disso, observe o verbo da Missão: "Me Ungiu" ἔχρισέν - echrisen no versículo 18 ("O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu ἔχρισέν - echrisen)."Este verbo significa "ungir" e está diretamente ligado ao termo Cristo (Χριστός - Christos), que significa "Ungido". Jesus não está apenas lendo uma profecia; Ele está se identificando explicitamente como o Messias prometido, aquele que cumpre a profecia de Isaías. O trecho é a Sua declaração de messianidade. O Senhor está abertamente revelando quem Ele é.

²¹ e ele começou a dizer-lhes: "Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir". ²² Todos falavam bem dele, e estavam admirados com as palavras de graça que saíam de seus lábios.

Esta é a declaração formal de que Ele é o Messias e que a era da graça profetizada por Isaías havia começado. Outro ponto é que os ouvintes reconhecem a graça de Jesus tanto pela profecia quanto pelas palavras de sua explicação.

Mesmo assim, apesar de inicialmente, a audiência reagir positivamente à mensagem, essa admiração é superficial e logo cede ao ceticismo.

Já e Ainda Não

A própria forma que o Senhor ensina a profecia já revela a chamada "Tensão Escatológica", frequentemente referida como "Já e Ainda Não", para indicar que o reino de Deus já começou por meio da vida, morte, ressurreição e ascensão de Cristo, mas sua plena realização aguarda seu retorno.¹ 

Segundo Naselli, "para usar a analogia de Oscar Cullman da Segunda Guerra Mundial, os cristãos estão hoje vivendo entre o Dia D (6 de junho de 1944) e o Dia V-E (8 de maio de 1945). Na Segunda Guerra Mundial, o Dia D foi aquele em que os aliados  derrotaram decisivamente o inimigo. Qualquer um podia ver que não havia como os aliados perderem. Mas a guerra ainda não acabara. Alguns dos combates mais horríveis da guerra foram depois do Dia D. Foi somente no Dia V-E (Dia da Vitória da Europa) que a guerra foi oficialmente encerrada. Assim, nessa analogia o Dia D representa quando Jesus derrotou decisivamente Satanás por meio de sua vida, sua obra na cruz, sua ressurreição e sua ascensão, e o dia V-E representa quando Jesus retornará a Terra para consumar sua vitória. Agora estamos vivendo naquele período entre o Dia D e o Dia V-E. A guerra ainda não acabou. Jesus já conquistou a vitória, mas Ele ainda não a consumou. O reino já é, mas ainda não é".

Agora observe que Jesus enfatiza isso ao encerrar a sua leitura em ¹⁹ e proclamar o ano da graça do Senhor". ²⁰ Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se." E dizer em seguida "Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir". A palavra utilizada por Jesus para 'Hoje' nessa passagem tem o teor de 'Neste exato momento'. É portanto . O ano aceitável do Senhor começa! 

Ao mesmo tempo ao omitir da profecia de Isaías o julgamento, deixa-o para outro tempo. Portanto, ainda não. Como dito, há assim na fala de Jesus elementos de que seu reino começou, mas ainda não foi consumado.

A pior decisão da vida

Mas perguntavam: "Não é este o filho de José? " ²³ Jesus lhes disse: "É claro que vocês me citarão este provérbio: ‘Médico, cura-te a ti mesmo! ’ Faze aqui em tua terra o que ouvimos que fizeste em Cafarnaum". ²⁴ Continuou ele: "Digo-lhes a verdade: Nenhum profeta é aceito em sua terra. ²⁵ Asseguro-lhes que havia muitas viúvas em Israel no tempo de Elias, quando o céu foi fechado por três anos e meio, e houve uma grande fome em toda a terra. ²⁶ Contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, senão a uma viúva de Sarepta, na região de Sidom. ²⁷ Também havia muitos leprosos em Israel no tempo de Eliseu, o profeta; todavia, nenhum deles foi purificado: somente Naamã, o sírio". ²⁸ Todos os que estavam na sinagoga ficaram furiosos quando ouviram isso. ²⁹ Levantaram-se, expulsaram-no da cidade e o levaram até ao topo da colina sobre a qual fora construída a cidade, a fim de atirá-lo precipício abaixo. ³⁰ Mas Jesus passou por entre eles e retirou-se.

Há uma forte ironia dramática aqui. A comunidade reconhece Jesus em Sua humanidade familiar (υἱὸς Ἰωσήφ - huios Ioseph, o filho de José), mas falha em reconhecê-Lo em Sua identidade messiânica, que Ele acabara de proclamar (o Ungido, o Χριστός). Essa descrença, baseada no conhecimento terreno, impede-os de receber a graça que buscavam. De fato, o Novo Testamento faz alertas constantes e contrastes frequentes quanto a diferenciação que nosso Senhor faz entre fé genuína e fé espúria, entre o tipo de fé que procede de Deus e aquela fé motivada pelo interesse mundano.

Jesus, então, revela o problema do coração deles citando o provérbio (v. 23) e o princípio de que "Nenhum profeta é aceito em sua terra" (v. 24). Ele usa os exemplos de Elias (v. 25-26) e Eliseu (v. 27) para mostrar que Deus historicamente abençoou os gentios quando Seu próprio povo O rejeitou, despertando a ira da congregação.

A reação ao alerta de Jesus é furiosa: "Todos os que estavam na sinagoga ficaram furiosos..." (v. 28). Eles tentam matá-lo, levando-o ao "topo da colina... a fim de atirá-lo precipício abaixo" (v. 29). Ao tentar rejeitar e destruir o Messias, eles cometem o pior erro espiritual de suas vidas. Jesus, porém, escapa milagrosamente (v. 30).

Jesus expôs-lhes o coração. Não à toa em outra ocasião citou Isaías 29:13-16 (NVI)

O Senhor diz: “Este povo se aproxima de mim com a boca e me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. A adoração que me prestam é feita apenas de mandamentos ensinados por homens. Por isso, uma vez mais deixarei atônito este povo com maravilha e mais maravilha; a sabedoria dos sábios perecerá, e a inteligência dos inteligentes se desvanecerá”. Ai daqueles que descem às profundezas para esconder os seus planos do SENHOR, que agem nas trevas e pensam: “Quem nos vê? Quem ficará sabendo?”. Vocês viram as coisas pelo avesso! Como se fosse possível imaginar que o oleiro é igual ao barro! Acaso o objeto formado pode dizer àquele que o formou: “Ele não me fez”? Pode o vaso dizer do oleiro: “Ele nada sabe”?

Como bem disse João,

¹⁰ Aquele que é a Palavra estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o reconheceu.¹¹ Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. ¹² Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, ¹³ os quais não nasceram por descendência natural, nem pela vontade da carne nem pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus.¹⁴ Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade. (João 1:10-14)

E quanto a nós? Entregaremos o nosso querer nas mãos do nosso Senhor? Seja Ele o nosso querer! O seu Ano Aceitável há muito já chegou!

Notas

¹ Para os que gostam de estudar, essa ideia de forte amparo bíblico foi inicialmente observada pelo brilhante teólogo Geerhardus Vos, e mais tarde popularizada pelo profícuo teólogo do Novo Testamento e ministro batista, George Eldon Ladd.