Lição 1 - A Primeira Pregação de Jesus

3º Período de 2025. Lição 1 - A Primeira Pregação de Jesus.

CONHECER JESUSJESUSSERMÕESENSINOA PRIMEIRA PREGAÇÃO DE JESUSLIÇÃO 1.2025

Thiago Souza

10/14/20257 min read

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Dando sequência ao nosso estudo "Conhecendo Jesus por meio de seus sermões e diálogos", passamos agora a refletir sobre a primeira pregação de Jesus. Para tanto utilizaremos o texto que se encontra em Mateus 4.17 que diz:

¹⁷ Daí em diante Jesus começou a pregar: "Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo". (Mateus 4:17)

Por meio desse texto Jesus tem muito a nos dizer sobre quem Ele é, e sobre o que veio fazer. Para compreendermos essas palavras, comecemos por observar seu contexto.

O Contexto dos primeiros capítulos de Mateus

O Evangelho de Mateus começa apresentado a genealogia de Jesus e imediatamente ligando nosso Senhor aos seus antepassados Abraão e Davi. Isso não ocorre por acaso, Mateus tem o objetivo de mostrar que Jesus é o cumprimento de promessas feitas ao povo de Deus, em especial a esses grandes antepassados:

  1. A Abraão, o Senhor Deus prometeu uma descendência numerosa no contexto da Aliança (Gn. 15.5), e Paulo, assim como Mateus (Mt 1.1), nos recorda de que a descendência de Abraão é Cristo (Gl. 3.16).

  2. A Davi, o Senhor Deus prometeu um descendente que preservaria a sua linhagem (davídica), e cujo reino e autoridade seriam estabelecidos para sempre (2 Sm. 7.8-16), acerca desse descendente Isaías falou "O Espírito do Senhor repousará sobre ele" (Is. 11.1-3a), e acrescentou que sua chegada seria precedida por uma "Voz que clama no deserto" (Is. 40.3-10). Assim como Davi, esse rei prometido representaria todo o povo, e agiria em seu favor (Is. 53).

Mateus está assim afirmando que em ambos os casos o descendente é Cristo, que as promessas estão ligadas e se cumprem nEle. Nesses primeiros versículos lemos sobre o nascimento miraculoso do Senhor e o cumprimento de diversas profecias em sua vida; somos apresentados a João Batista que se identifica como a Voz que mencionamos acima, que prega sobre a chegada do Reino e a necessidade de arrependimento; vemos o Senhor Jesus ser batizado, o Espírito Santo repousar sobre Ele, e então após ser conduzido ao deserto, em jejum de quarenta dias, é tentado por Satanás, e sai vitorioso sobre este inimigo. O Senhor então parte para Cafarnaum e inicia sua pregação (Mt. 4:17).

João Batista e Jesus no Evangelho de Mateus

A primeira coisa a se notar é que a primeira pregação de Jesus (Mt. 4:17) é idêntica à pregação de João Batista (cf. Mt. 3.2). O que muda é o sujeito, e isso já nos diz bastante coisa: quando João Batista prega a proximidade do Reino, está preparando para a chegada do Reino. Quando Jesus prega a proximidade do Reino, fala de Si mesmo, de Sua Autoridade e de Sua Missão. Jesus era assim o conteúdo da pregação de João Batista, e aquele por quem João esperava.

Essa missão de João Batista com relação ao advento do Messias muito se assemelha à da igreja hoje, da mesma que esse grande profeta, somos chamados a anunciar a presença e o governo/reino do Rei Jesus, recordando que a sua vinda (no nosso caso, a segunda) está muito próxima.

Israel e Jesus no Evangelho de Mateus

Perceba que Mateus está indicando que Jesus é o legítimo e prometido rei davídico aguardado por Israel, como rei ele substitui/representa seu povo diante de Deus, assim Mateus mostra Jesus seguindo os passos de Israel, sendo contudo um substituto melhor:

  1. Como Israel, Jesus veio a exixtir miraculosamente. Israel a partir da multiplicação dos descedentes de um homem idoso cuja esposa era inicialmente infértil e fora curada pelo Senhor. Jesus nasce da que era virgem, desposada com um varão de Judá.

  2. Como Israel, Jesus é levado para o Egito para escapar do risco da morte. Israel, a seca e a fome. Jesus, a morte dos nascidos abaixo de 2 anos, ordenada pelo rei Herodes. 

  3. Tanto para Israel quanto para Jesus (Os. 11.1), o Senhor diz "Do Egito chamei o meu filho" (Mt. 2:15).

  4. Como Israel atravessou o Rio Jordão na presença da Arca da Aliança do Senhor, agora Jesus vai ao Rio Jordão, onde é batizado nas águas desse rio, e contempla a manifestação da presença de Deus, que dá testemunho de sua satisfação.

  5. Assim como Israel foi levado para o deserto (onde Moisés jejuou 40 dias) e ficou lá 40 anos por causa do seu pecado, Jesus (jejuando 40 dias) também foi levado ao deserto, mas não pecou, antes venceu onde Israel falhou. 

  6. Assim, como o profeta Moisés foi sucedido pelo libertador Josué, assim o profeta João, o Batista, foi sucedido por Jesus (cujo nome, assim como o de Josué, significa "Yahweh é Salvação), o Salvador e Libertador definitivo.

  7. Assim como era o chamado de Israel no Antigo Testamento, Jesus manifesta o verdadeiro povo de Deus (cumprindo a promessa a Abraão), a verdadeira presença e governo de Deus, por meio de sua autoridade e reino eternos (cumprindo a promessa a Davi).

Mateus está fazendo esse contraste para demonstrar que a reivindicação de Jesus é justa, legítima e verdadeira. E que assim como o remanescente fiel teve de lidar com a oposição de seu próprio povo desde sempre, Jesus encarna essa relação, e vai até o fim, vencendo para redimi-lo, e restaurar o propósito de Deus para e a partir de seu povo. Diante dessa personificação de Israel, enquanto povo da aliança, que Jesus, nas palavras de Mateus, leva a cabo, não é de se admirar que o povo de Deus, na Nova Aliança, venha a ser reconhecido como "corpo de Cristo" (usando palavras de Paulo, mas pegando carona nessa analogia mateana).

O tipo de reino que Israel esperava

Desde o cativeiro babilônico, o povo de Judá, do antigo Reino do Sul, que fora destruído pela Babilônia, e cujos cativos haviam sido levados por essa potência militar, passou por várias transformações históricas. Com a derrota da Babilônia nas mãos do Império Medo-Persa, depois de algum tempo, foi concedido esse direito de regresso a sua terra, aos judeus que quisessem retornar, e alguns de fato retornaram, lemos sobre isso em Esdras e Neemias, Ageu e Zacarias, descobrimos suas dificuldades e algumas de suas vitórias. Mas importa lembrar que esse território de Judá não era mais independente, havia se tornado parte daquele império.

De província babilônica, tornou-se província da Média e da Pérsia, e então quando Alexandre, o Grande, iniciou sua grande conquista pelo mundo, ainda que por meio da paz anexou também esse território judeu, que passou a pertencer ao Reino Greco-Macedônico. Com a morte de Alexandre, seus Diádocos (generais que se tornaram seus sucessores) dividiram seu império em 4. O território judeu se tornou objeto de disputas entre os reinos formados por dois desses Diádocos, os ptolomeus (com sede em Alexandria, no Egito) que quase sempre lhes foram favoráveis, e os selêucidas (com base na Síria) alguns dos quais se opuseram ferrenhamente aos judeus e aos seus costumes. Foi durante o jugo dos selêucidas que os judeus se revoltaram no episódio conhecido como Guerras Macabeias (168-134 a.C.) e alcançaram uma tênue independência (que foi privilegiada pelo vácuo de poder gerado pelo declínio dos selêucidas), sob uma liderança sacerdotal, conhecida como a dinastia hasmoneia.

Esse cenário aos trancos e barrancos durou até um pouco depois da intervenção romana em 63 a.C., quando em 37 a.C. Herodes, o Grande foi instalado no poder como rei, fazendo de Israel um Estado-cliente romano, e pondo um fim à dinastia dos asmoneus.

Nos tempos em que Jesus viveu, a ideia de reino havia sido esvaziada ou distorcida. O reino que muitos esperavam era uma versão macabeia de um reino davídico, que nos moldes dessa guerra recente, fora alcançado por meio da força, quando líderes judeus sacudiram de cima de si o jugo de seus dominadores. Assim, com algumas variações aguardavam o Messias, o Rei, para livrá-los do jugo de Roma e estabelecer um novo reino judaico independente, já que eram o povo da aliança.

"Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo"

Então, quando Jesus inicia a sua pregação ele está lidando com todas essas expectativas, tanto do povo para o qual ele veio pregar, quanto das Escrituras e daqueles que nela esperavam sua vinda. Note que o Senhor não desconsidera nenhuma dessas expectativas mas vem trazer todo mundo de volta às Escrituras, à vontade do Pai.

O que seus ouvintes haviam se esquecido, e o Evangelho de Mateus mostra bem isso, é precisamente o porquê de Judá ter sido levada para o exílio em primeiro lugar: o fato de pecarem, afastando-se de Deus e negligenciando sua aliança, o que os fez colher os juízos previstos nela (Dt. 28). O problema universal do pecado com o qual Deus está lidando desde antes de Abraão e Davi, havia alcançado de maneira profunda o povo do Senhor.

Assim o Senhor prega que o Reino de Deus se aproxima e que isso é motivo de arrependimento. No Cristo presente, o Reino é chegado, a autoridade e o propósito escatológico da redenção divina anunciada na Antiga Aliança chega a sua plenitude, o juízo começa pela casa do Senhor, o tempo que eles esperavam chegou, mas não da forma que eles imaginavam. O Cristo então vem buscar o que havia se perdido, vem restaurar o povo (o remanescente fiel) à real expectativa escriturística da consumação predita pelo Senhor. É o próprio Deus presente, Emanuel, que vem ajuntar as sua ovelhas para a grande Salvação já prestes a se manifestar!

Ao mesmo tempo em que revela Ele, e justamente por revelá-lo, essa pregação é um convite, tanto quanto um ultimato: O Senhor está conosco, irá nos redimir: quem encontrará arrependimento e será unido a Ele?